A geração de energia elétrica tem mudado no Brasil nas últimas duas décadas e continuará essa transformação ao longo dos próximos anos.
No fim da década de 1990, cerca de 90% da matriz era baseada na energia oriunda das turbinas das usinas hidrelétricas. A participação do vento, sol e do gás natural era muito pequeno e ficava restrita a menos de 5%.
Hoje as hidrelétricas respondem por 63,5% da geração, enquanto as usinas eólicas respondem por cerca de 9% da geração de eletricidade no país.

Fonte: EPE (2017) e ABSOLAR (2021).
O avanço dessas fontes intermitentes, que dependem das condições climáticas, impõe mudanças no sistema de formação de preços da energia elétrica. Por isso, foi adotado em 1 de janeiro de 2021 o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) Horário, com preços em bases horárias.
Até o ano passado, o PLD, referência para contratos de compra e venda de energia no mercado livre, era calculado em base semanal.
Ao adotar o PLD Horário, o sistema passou a ter maior aderência entre preço e operação, permitindo que o fato de uma turbina sair de operação ou retornar de forma antecipada seja capturado no mecanismo de precificação.
No Nordeste, por exemplo, a geração de energia eólica é maior de madrugada, com ventos mais fortes, enquanto boa parte do consumo se dá à tarde ou à noite.
Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia 2029 (PDE 2029), elaborado pela Empresa de Pesquisas Energéticas, órgão estatal de planejamento do setor energético brasileiro, a previsão é que a participação da energia solar salte de 2%, em 2019, para 8%, em 2029.

Fonte: PDE 2029.
Vale a pena adotar o PLD Horário?
Para Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica (ABSOLAR), os atributos da fonte fotovoltaica ganharam reconhecimento por meio do (PLD). Ele também considera que o novo modelo destaca o fato de a tecnologia gerar energia durante o dia, período no qual maior parte do consumo acontece.
“O PLD horário é uma evolução importante para a energia solar fotovoltaica, que gera energia no período diurno, justamente aquele em que a sociedade mais consome. Os nossos picos de demanda, que no passado ocorriam no final do dia, agora estão acontecendo entre 11h e 17h, em especial nos meses mais quentes do ano”, relatou o presidente da ABSOLAR em entrevista ao podcast Giro Energia, realizado pelo jornalista Roberto Rockmann.
Sauaia detalhou o motivo do PLD horário levar à valorização da energia solar. “Nesses momentos do dia, temos Sol brilhando intensamente e a fonte solar pode ajudar a aliviar essa demanda maior do sistema, gerando energia, inclusive perto dos locais de consumo. Naturalmente, nesses horários a energia deve ter um valor maior. Portanto a solar deve ter, com a entrada do PLD horário, o reconhecimento deste atributo que atualmente não é valorizado corretamente pelo setor elétrico brasileiro”.
O dirigente também afirma que este novo modelo é um progresso fundamental para a contabilização do valor da energia elétrica no Brasil:
“Isso porque nós sabemos que, em diferentes horários do dia, os brasileiros consomem quantidades diferentes de energia elétrica. Por exemplo, no período da noite, a energia é consumida em quantidade muito menor e faz sentido que nesse período, em que a demanda é menor, o preço reflita essa realidade e seja menor”, elucida Sauaia.
“Nos momentos em que a sociedade faz mais uso da energia, é natural que o preço também reflita isso. Esse alinhamento entre oferta e demanda em base horária, ajuda a sociedade a melhor reconhecer o valor que a energia elétrica tem nas diferentes horas do dia. Por isso, o preço-horário é um avanço, porque ajuda a trazer mais realismo e clareza para o valor pago a energia elétrica pela sociedade”, completou.
Porque agora?
A intenção de se implantar preços horários não é recente. A primeira vez em que foi proposta ocorreu em agosto de 2000, com a publicação da Resolução Aneel 290/2000, que foi revogada em 2002 pela Resolução Aneel 446.
A justificativa para a não implantação à época se baseava na falta de necessidade de preços horários em virtude do peso da geração hidráulica com reservatórios na operação do sistema, o que conferia previsibilidade e baixa volatilidade à operação.
Hoje a situação mudou: as usinas hidrelétricas respondem não mais por 90% da geração elétrica, mas por 63,5% e esse percentual poderá cair para abaixo dos 50% em 2029, segundo previsões da EPE.